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sábado, 14 de fevereiro de 2015

O Ovo da Questão


Já tem algum tempo que faço parte de um grupo no facebook onde são postadas receitas e fotos de comidas veganas. Embora eu diga que faço parte, eu apenas tenho pulado essas fotos e receitas sem me tomar parte significativa de meu tempo. Mas, como volta e meia acontece no facebook, uma postagem específica me chamou atenção, não apenas pelo conteúdo em si, mas também pelas reações que ela gerou.

O post se tratava de uma pessoa relatando um questionamento que ela tinha. Visitando a fazenda do seu tio, ela se depara com uma situação que ela não esperava em galinheiros normais, as galinhas sendo bem-tratadas. Ao vê-las nesse estado perguntava no post se era errado comer seus ovos pois elas iriam pô-los da mesma forma.

As reações foram imediatas! Dizendo como era uma crueldade comer os ovos da galinha e como a pessoa era uma exploradora e como é nojento se alimentar de menstruação de galinha (sem dúvida, o argumento mais surreal). Sem mais nem menos era errado e ponto, não havia espaço para discussão e seguiam linhas e mais linhas de pessoas raivosas dizendo como ela era ignorante e não sabia como as coisas funcionavam.

E foram essas reações que me deixaram perplexo. As pessoas não estavam tentando explicar o porquê comer ovos, independente da forma que as galinhas foram criadas, é errado. Mesmo existindo bons argumentos para provar isso, estavam querendo apenas mostrar como elas estavam certas e a outra estava errada. O simples questionamento gerou uma animosidade que só resultaria em exclusão daquela pessoa.

Ou seja, por apenas refletir sobre seus atos e buscar esclarecimentos ela foi malvista por um
grupinho. Grupinho esse que por entender que suas ações são sempre as mais certas, nega qualquer possibilidade de reflexão. Isso não é raro. O mundo está cheio de um maniqueísmo imbecil onde uma parte se acha dona do saber enquanto a outra é ignorante, manipulada, mal-intencionada. Hoje, busca por esclarecimento é sinônimo de fraqueza e, ai de você, de não concordar com o que eu repito.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Rugas

A persiana permite que os raios solares pousem sobre o meu colo. O formato de sua luz zomba de meu estado e estou muito cansado para achar graça. Sempre admirei os idosos que conseguem zombar da velhice e da morte. Mas eu não consigo. Estou preso nesse lugar e estou preso no meu corpo. Minha morte apenas trancará as portas dessa cela.

As cortinas deixam escapar a luz do sol que bate em minha mesa e me impede de ler o que escrevo. Mas nem sei o que copio. Passo tudo que a professora passa no quadro para não morrer de tédio.
Ás vezes, nem escrever ajuda. Minha mão começa a doer. Começo a olhar para os outros cantos da sala. Observo a garota que gosto. Se não fosse tão indiscreto, passaria toda a aula a olhar para ela.
Para algumas pessoas, há sempre a necessidade de contato íntimo. Mas para mim não. Apenas o olhar basta. Olhar e sair impune de todos os meus desejos.

A porta do quarto está entreaberta e a luz do corredor invade o quarto. Essa luz revela um pedaço de minha cama que se encontra vazio. Ela não está aqui e me pergunto porquê. Apuro meus ouvidos e percebo passos vindos da cozinha. Ela entra no quarto sem roupa, vestindo apenas um copo de água em sua mão e seus cabelos dessarumados que obstruem minha visão de seus olhos. Por um momento, desejo apenas comê-la de longe. Mas não posso. Pergunto “está tudo bem?” Ela responde que sim, mas percebo que não e desejo apenas ficar calado. Peço: “me conte qual o problema.” Desejo não escutar.

Meu estômago embrulha. A garota que eu gosto está vindo para esse lado da sala. Sinto nada, apenas meu coração batendo forte. Tanto, tanto, tanto, tanto.
Por alguns minutos, ou segundos, não sei, eu não sinto nada e sua pele roça levemente na minha e é o suficiente para que um choque elétrico percorra todo meu corpo.

Meu maior erro foi acreditar que para tudo deve haver um motivo. Saber que não há nenhum foi minha perdição. No momento que tive certeza que não havia nada, foi o momento em que meus joelhos começaram a estalar. A cada passo que eu dava, ele dava um estalo. Igual os ponteiros de um relógio que giram apressados para o próximo tique. Desde então, parei. Desde então, permaneço sentado observando o mundo através dessa persiana barata.

Lamento o momento em que acordei no meio da noite. Quero bocejar, mas não posso. Funciona como uma injeção, só deve se tirar a agulha quando o êmbolo já for todo pressionado. Rezo para apertar a porra dessa seringa de uma vez! A injeção acaba quando ela se veste e vai embora. Sinto a porta do apartamento bater como uma agulha saindo de minha pele. Suspiro com a consciência que a dor apenas começou.

Aquele momento em que aquela garota que eu gostava na escola encostou em meu braço, bastava. Não necessitava de mais nada. Tudo que veio depois só serviu para me afastar daquilo que realmente importou.
Mas agora tudo isso não vale mais nada. Essa luz me machuca.
Meus olhos dóem e eu quero fechá-los.
Minhas rugas são tantas, eu não consigo fechá-los.
Minhas rugas são
tantas que eu
não consi
go fechar.
Tantas rugas
consigo.

Sigo.

domingo, 13 de julho de 2014

Porque o Prêmio Nobel é besteira


A derrota do Brasil para a Alemanha por 7 a 1 provocou diversas emoções no povo brasileiro. A primeira, a raiva de uma seleção fraca que aos trancos e barrancos chegou até as semifinais e, só então, desvelou a sua incompetência perante brasileiros sonsos que já temiam um vexame desses. A segunda, outra raiva, a raiva política que ao tentar mostrar consciência ao xingar a presidente revela a alienação de um povo que enxerga ligação entre os sete gols tomados como se Dilma estivesse defendendo o gol verde-e-amarelo.

Mas é de uma terceira emoção que eu quero falar: o desprezo repentino por tudo que é nosso. Todo aquele orgulho brasileiro que repentinamente surgiu ao dar início a Copa do Mundo foi tão rapidamente quanto exterminado. Entre oráculos atrasados que já previam a derrota, surge um comentário que que me chama a atenção. Ronaldo, grande apoiador da Copa do Mundo no Brasil, compara a goleada dentro de campo com uma goleada de prêmios Nobel da Alemanha sobre o Brasil.

Embora a academia do Prêmio Nobel não procure levar em conta o país de origem dos nominados, é inevitável que se faça comparações entre os laureados e suas nacionalidades. Mas será que a ausência de Prêmio Nobel dentre os brasileiros devia nos incomodar tanto? Será que a quantidade de prêmios determina a superioridade de um país sobre os outros? No futebol, o número de gols determina a vitória de uma equipe, mas não tenho certeza se o Prêmio Nobel determina alguma coisa.


O prêmio Nobel foi criado por Alfred Nobel, inventor da dinamite, que ao perceber que era associado como "mercador da morte", decidiu criar o prêmio para tentar mudar sua imagem. Desde então, a Academia Sueca concede os prêmios aos destaques nas áreas de Física, Química, Fisiologia ou Medicina, Literatura e Paz. Dentre os prêmios está uma medalha, um cerficado e uma soma em dinheiro.

O criador do prêmio pode ser comparado a um laureado por seu prêmio, Albert Einstein. A invenção da dinamite foi de grande utilidade para a humanidade mas também provocou muitas mortes. Da mesma forma, sem a ajuda de Einstein e suas pesquisas, os Estados Unidos nunca conseguiriam fazer o que fez com as cidades de Nagasaki e Fukushima. No entanto, não penso em botar em questão a importância da dinamite e a genialidade de Einstein. Igualmente, não versarei sobre assuntos cujos não possuo conhecimento teórico suficiente sobre, como Química, Física e Fisiologia. Discursarei apenas sobre a área de Literatura (área em que estudo) e Paz (área que não inventaram um diploma ainda) e me restrinjo a falar besteiras comuns a todos que expõem sua opinião somente sobre esses dois tópicos.


Dentre os que receberam o Prêmio Nobel, há alguns que me chamaram a atenção. Como, por exemplo, Barack Obama que recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Qualquer presidente dos Estados Unidos está sujeito a um imperialismo institucionalizado e Obama não foge dessa sina. Ainda há muita gente morrendo pela América no Oriente e o maior êxito do atual presidente é não ser George W. Bush.

Na lista de presidentes nomeados há também Jimmy Carter, que embora tenha apoiado Obama, disse, ao se candidatar aos cargo de governador da Geórgia que não precisava do apoio dos negros para ganhar.

Esses não são os únicos políticos da lista, temos ainda Churchill, famoso ex-primeiro-ministro da Inglaterra que recebeu o honroso Prêmio Nobel de Literatura. Se eu conhecesse algum, eu listaria os melhores livros de Churchill.

São esses nomes que salpicam entre outros que merecem a real apreciação de sua obra. Esses poucos nomes que surgem demonstram que a Academia Sueca não está isenta de teor político. Essas escolhas sempre refletem uma posição política que pode não representar aquilo que o prêmio se propõe a representar.


Outro nome pode ser destacado dessa lista. Não por não o ter claramente merecido mas por o ter recusado. Jean-Paul Sartre explicitou muito bem os motivos de não ter aceitado essa honraria. Um deles é o fato de não querer adicionar o aposto de "ganhador do Prêmio Nobel" à sua assinatura de escritor. Acreditava que esse peso era prejudicial à leitura de seus livros. O outro era por acreditar que involuntariamente a Academia fortalecia a polarização leste-oeste ao invés de apreciar todas as culturas.


Qualquer espécie de prêmio pode levar a julgamentos precipitados. Se mesmo nos esportes, onde é definido uma meta clara, nem sempre o melhor atleta ou equipe vence, não é surpresa que isso aconteça em áreas mais nebulosas nas quais os critérios não são tão claros.

Um desses exemplos são os programas de calouros onde milhares de pessoas se prestam a ser julgados por uma banca pela sua performance musical. Nesses casos fica muito claro aspectos como a valorização de um certo tipo de música sobre o outro. Cantores como Bob Dylan ou Chico Buarque seriam escurraçados nas primeiras fases de tais programas. Embora os dois tenham indubitavelmente uma obra de grande valor artístico e cultural.

Isso não ocorre apenas com artistas, mas também com gêneros musicais. Quando um jurado julga alguém, ele não está apenas avaliando o artista mas também o que está sendo cantado. Muito dificilmente nesses programas vence aquele artista que não canta música pop. Esse defeito gera um tendência perigosa ao etnocentrismo que ao invés de pluralizar nossa cultura, nós apenas a empobrecemos. A música pop, não melhor que funk, samba música folclórica ou outras mais. Elas são diferente formas de se expressar com igual valor cultural.


Se em programas de entretenimento, essas questões podem induzir a pensamentos deturpados. Imagina em uma premiação que pretende ser séria. A falta de Nobels do Brasil não é fruto da nossa incapacidade intelectual. Ela é fruto da incapacidade da ACademia Sueca perceber nossos gênios. Machado de Assis não perde em nenhum momento para García Marquez e Paulo Freire não perde para Sartre. Só no Brasil existem dezenas de merecedores. Mas também há milhares pelo mundo afora de países não contemplados que merecem mais que um Churchill.

Obviamente, no Brasil há um sério problema de Educação. Mas esses problemas não serão resolvidos utilizando conceitos vazios como o número de Prêmios Nobel. É preciso reconhecer nossas virtudes e defeitos e nosso valor cultural e devemos fazer isso sempre com os nossos próprios olhos e não os olhos de outro.

Qualquer forma de premiação é incapaz de estabelecer avaliações precisas sobre algo. Se não o fosse, Cidadão Kane ganharia o Oscar e Machado de Assis ganharia o Nobel de Literatura.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

As Marcas Que Ficaram

No mês de Junho, o Brasil foi marcado por uma série de manifestações que tomou a população e seus governantes de surpresa. Uma mobilização dessa magnitude não acontecia no país desde os tempos do Fora Collor. Parecia muito improvável que pessoas voltassem a sair de casa pelo aumento de mais vinte centavos na passagem do ônibus.

Sobre essas manifestações muito já foi escrito, desde os motivos dela ter acontecido até o rumo que elas tenham tomado nas semanas recentes. Mas seria mais importante ressaltar o tipo de discussão que pairava no turbulento mês de Junho. Foi durante esse período que mais se ouviu falar sobre política nas ruas, e isso tem sido a maior vitória que as mobilizações alcançaram.

A meu ver, as duas mais importantes pautas dessas discussões foi a causa do protesto e a razão das manifestações tomarem toda a proporção que tomou. Essas são a qualidade do transporte público e o despreparo da polícia em servir a população.

A qualidade do transporte público no Rio de Janeiro e no Brasil é notoriamente uma vergonha. Paga-se muito por um serviço péssimo. Como se não bastasse, o governo insiste em focar seus investimentos no transporte particular, alternativa que é inviável em uma cidade de grande porte.

A melhoria do serviço e a diminuição ou extinção (porque não?) do preço da passagem é essencial para a melhoria da infra-estrutura da cidade. Um transporte público excelente é essencial para a circulação de recursos humanos e a democratização dos espaços públicos. Ou seja, é inadmissível que o trabalhador fique preso no trânsito no caminho para o trabalho diminuindo sua produtividade e seu horário de lazer ou que eles não possam usufruir de lazeres como teatro, cinema, praia e parques devido a enorme distância desses lugares de sua casa.

Outra urgência brasileira é o despreparo da polícia brasileira. O que se mostrou nas ruas em junho foi só uma amostra da incapacidade da organização e de seus integrantes de reconhecerem seu papel na sociedade, servir e proteger a população. Em tempos que policiais atacam pessoas para que interesses exclusivos de uma elite sejam defendidos, é urgente que se discuta não só a desmilitarização da polícia como também a redefinição do seu papel para o povo.

Existem muitos outros pontos que merecem ser discutidos, mas foram esses que achei mais evidentes vindo das mobilizações. É necessário que as pessoas não deixem de fazer política nas ruas e que nossas deficiências sejam analisadas regularmente. Caso contrário, as manifestações de nada serviram.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

A Violência Desportiva Em Um Show De Rock

No último mês de julho, tive a oportunidade de estar presente em dois ótimos shows no Circo Voador. O primeiro, o show da lendária banda de Hardcore, Dead Fish, o outro foi da banda de pop punk adolescente que adquiriu com o tempo pitadas de reggae, o Forfun.

Nessas duas experiências pude fazer parte de uma prática comum dos shows de rock mas da qual meu histórico se limitava a festas alternativas com um bando de bêbados animados. A rodinha punk.

Esse tipo de violência desportiva, que ocorre em maior ou menor densidade dependendo de onde e de quem seja o show, possui um caráter polêmico. Porque, nem todos estão afim de levar uma cotovelada aleatória enquanto tenta assistir ao show de sua banda favorita.

Logicamente, certos tipos de espetáculo favorecem essa prática. No SWU de 2011, tive a oportunidade de presenciar uma roda gigantesca devidamente conclamada por Digão, líder da banda Raimundos. Na oportunidade, me satisfiz em olhar de longe atrás da grade que me separava da plateia de onde a roda surgiu.

Há porém, outros lugares onde essa prática não seja tão bem aceita embora seja comum. Um desses casos é o caso das festas alternativas. Eu compreendo completamente os olhares reprovadores para os rodeiros. As pessoas deviam estar ali para dançar, não para causar acidentes aéreos de HI-FI's e caipirinhas.

Porém, sempre os Dj's insistem em colocar um Rage Against The Machine para que a galera mais animada posso se acotovelar com a trilha sonora adequada. O que gera a preocupação de uma parcela dos seguranças e, geralmente, é seguida de um pedido ao DJ para que a bateria de músicas pesadas e rápidas parem para que o pessoal dê uma respirada.

Assim, a música é trocada por um tradicional The Smiths ou Bon Jovi. Isso, normalmente, é o suficiente para as pessoas se lembrarem que estão em uma boate e começarem a procurar a primeira bêbada para despejar suas melhores cantadas.


Em busca de uma experiência mais intensa, um show do Dead Fish é o ideal. Uma rodinha punk mais que decente é o mínimo que se espera de um show no qual o vocalista sempre acaba por brigar com alguém.

O show em que fui fazia parte de um festival em que participavam 4 bandas: Plastic Fire, Oitão, Rancore e Dead Fish. Consegui chegar apenas para o show da segunda banda. Som pesadíssimo mas plateia, embora boa, muito rala. A rodinha serviu para dar uma aquecida para os shows subsequentes, mas só. No entanto, mesmo se não tivesse rodinha, a experiência já teria valido por ter conhecido a banda.

A outra banda era a Rancore. Eu já tinha escutado o último disco deles e estava ansioso para ouvir eles ao vivo. O show foi muito bom, em parte pela plateia que estava empolgadíssima. Apesar do som não ser muito propício, a rodinha rolava soltava. Tive que me segurar em algumas músicas para não chegar no show da noite sem folêgo.

Guardar minhas energias foi sábio. Existem poucas experiências tão intensas quanto assistir um show do Dead Fish na meiuca. A violência rolava solta em 99% do tempo em que a guitarra podia ser escutada. Pessoas se empurram sem a menor discriminação e socos eram disparados como se tivessem sidos possuidos por demômios.

A roda era composta de magrelos e gordinhos com bandas de rock e alguns carinhas fortinhos sem camisa. Apesar de me assustar com a aparência de pitboy de alguns, a maioria mostrava que estava lá só para se divertir. Embora, em certo momento do show, eu tenha sido atingido em cheio na boca do estomâgo por um desses fortinhos que eu tinha certeza que dera  o golpe propositalmente.

Apesar de ter sentido o golpe, tratei de engulir a raiva de tentar me vingar em plena rodinha do fdp e me concentrei em permanecer em cima das pernas. O que não foi possível em um momento, mas, felizmente, fui rapidamente levantado pelo mesmo braço que tinha me empurrado.

Aí que reside a beleza da rodinha. O importante não é desferir golpes desleais em seu companheiro, o que importa é descarregar toda energia em uma violência cega inofensiva que faz a adrenalina correr e faz você se sentir mais vivo.

A minha queda e a de outros bêbados que estavam por lá demonstrava justamente isso. Assim que um corpo caía, meia dúzia protegia-o dos riscos de uma rodinha e outra meia dúzia ajudava o cara a se levantar o mais rápido possível. Ninguém quer que ninguém se machuque, exceto o fdp que me deu aquele soco.

Apesar das dificuldades, consegui me manter rodando quase todo o show e não sofri ferimentos graves. A dor que durou por dias em todo meu corpo e principalmente nos braços foi inevítavel, mas valeu muito a pena.



O show do Forfun tinha uma vibe totalmente diferente. Eles estavam lançando o seu primeiro dvd que continha, além das ótimas faixas de poppunk adolescente, as novas faixas do disco Alegria Compartilhada que está recheado de positividade.

A maratona para conseguir assistir a esse show foi extenuante. Além de ter que aguentar a cantoria de dezenas de chilenos por todo engarrafamento causado pela vinda do papa, fui obrigado a assistir um show religioso enquanto esperava na fila nunca antes vista para entrar no Circo.

A fila só começou a andar em velocidade decente quando a banda tinha começado a cantar a primeira música. Já era tarde mas não tinha problema, o setlist era grande e nada podia estragar o show.

Ao ouvir os primeiros acordes de perto, a primeira reação que tive foi me intrometer nos corpos amontoados ao redor do palco para curtir o show. Me desprendi do grupo o qual estava acompanhado e me lancei no bando daqueles malucos pulando.

Ao contrário do show do Dead Fish no qual eram minoria, os fortinhos sem camisa se encontravam em grande número na plateia. A primeira má impressão também foi superada e eles pareciam inofensivos.

A roda tinha menos socos e mais pulos, o público pulava em grandes círculos que as vezes se abriam para que pudessem ser lançadas pessoas no ar. O show foi muito menos intenso devido a completa impossibilidade de se fazer uma rodinha ao som de uma guitarra reggaeada. Mas as músicas antigas garantiram que o suor escorresse da minha testa em umas das rodas mais divertidas.

O show do Forfun é dotado de uma simplicidade incrível. Além das mensagens incríveis que eles passam nas músicas, em poucos shows é possível compartilhar uma rodinha com Dedeco da banda Dibob, outra grande expoente do rock surfista dos anos 2000.

Apesar do clima de despreendimento reinar no show, nem tudo era alegria compartilhada. Parecia que alguns dos fortinhos não queriam apenas brincar e, apesar de não ter visto nada grave, parecia que qualquer um ia partir para briga com alguém. Mas felizmente sempre haviam pessoas dispostas a apartar o desentedimento.

O show deles é muito bom e aconselho a todos irem, mas parece que uma parcela da plateia não conseguia entender o que a letra dizia. Porque tenho certeza, se todos ouvissem Forfun, esse mundo seria muito melhor.


Essas duas experiências me agraciaram com uma compreensão mais completa de um show de rock nacional. Me mostraram que as pessoas deveriam sair das boates e migrarem para os shows, porque lá é onde a magia acontece. Ouso dizer, que o show é a realização completa da música, onde o artista encontra o público não só através de sons, mas também através de energia. Energia que nunca se comparará ao som opaco de uma gravação.

Em todo esse processo, a rodinha punk é presença certa em shows de rock, também ouso dizer que ela é determinante na qualidade de um show. Logicamente, ela deve se adequar ao estilo de som que está tocando. Mas os pulos desajeitados e os socos cegos serão sempre preferíveis à contemplação passiva do espetáculo. E isso difere um show de rock de um show qualquer.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Servir e proteger?

"A PM só usa a força contra este tipo de 'manifestante' "

No dia 30 de junho, após os protestos no Maracanã, o twitter PMERJ, que pertence a nossa querida Polícia Militar, postou a foto acima com os seguintes dizeres: "A PM só usa a força contra este tipo de 'manifestante' ". Esse é um sintoma claro de que, além de agir com violência exacerbada, a polícia demonstra um profundo desconhecimento do que viria a ser a sua real função.

O lema da Polícia Militar é "servir e proteger", e nada mais justo que esperarmos que a polícia sirva e proteja a população. Mas não é isso que vemos, seja em caso de manifestações ou em outros casos. A polícia demonstra que ela existe para servir os poderosos e proteger a propriedade privada.

A ação dessa organização nos protestos nos permite pensar assim. Ao invés dela assegurar à população o direito de manifestação e garantir a segurança das pessoas, a polícia agride e aterroriza os manifestantes em uma suposta premissa de dispersar, que por si só se mostra desacertada pelo fato da população possuir o direito de ocupar as ruas.

Ao agir sob o comando do governo e, por conseqüência, da FIFA, fechando as ruas ao entorno do Maracanã, a polícia demonstra claramente a quem ela mostra serviço. Os manifestantes não fazem mais que o esperado ao tentar furar essa barreira que é a representação da exclusão da sociedade civil da participação das decisões sobre a cidade.

Mas, mesmo assim, muitos criticaram a ação dos grupos violentos. Não é nenhum absurdo dizer que houveram excessos por parte de alguns manifestantes nos protestos, porém a maioria age por uma causa justa. Muitos dos encapuzados e vestidos de preto (Black Bloc) exercem o papel de retardar a ação da polícia permitindo que os outros manifestantes fujam das bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.

Ou seja, ao usar a violência em grupos como o da foto, a polícia não está fazendo nada além de atacar quem está fazendo o trabalho que ela não faz, proteger a população. É nosso dever agradecer a polícia quando ela faz um bom trabalho, mas, definitivamente, ela não o está fazendo nessas últimas semanas.