Páginas

sábado, 29 de dezembro de 2012

Triturador de papel

Preciso de um triturador de papel,
sem dó ou piedade.

Que rasgue minhas provas,
recados,
cartas
ou atestados.

Que rasgue meu passado,
inventado e transcrito
numa folha de papel.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Aproximados

Muitas vezes, ao ouvir uma música ou ler um texto, nós acabamos assimilando aquela produção com certos momentos de nossa vida. Ela pode nos emocionar a ponto de fazer-nos chorar, rir e sentir arrepios em nossa pele. Esse não é um fenômeno raro, e todos que já consumiram arte algum dia de suas vidas já sentiram esse tipo de sentimento. Os poemas, as músicas, os romances e outras formas de artes são feitas tomando por base os sentimentos humanos como amor, alegria, tristeza ou raiva. Embora nós, humanos, carreguemos milhões de características capazes de nos distinguir em nossos DNA's, temos certezas que todos carregamos esses mesmos sentimentos.

Os sentimentos que nós atribuimos, por exemplo, às músicas que ouvimos, geralmente são assimilados de acordo com o ritmo, a melodia e as palavras cantadas daquela canção. Não raramente, esses sentimentos não possuem uma ligação direta com aquilo que o músico quis passar ao escrever a canção.  A principal causa desse fenômeno é o fato da música popular ser algo muito superficial, ou, ao menos ao ponto de admitir várias interpretações sobre o mesmo objeto. Não que isso seja algo que deprecie a arte, mas certamente a faz admitir uma gama variada de recepções e interpretações. Essa superficialidade é muito encontrada na música, onde as exigências de métrica e ritmo fazem as letras produto de um processo muito intelectual. Por mais que a harmonia e melodia passem muito sentimentalismo, na maioria das músicas as letras evidenciam o esforço para encaixar todas as sílabas em uma frase musical. 

Algumas, porém, fogem a esse padrão, e nelas conseguimos atravessar as notas e ver o sentimento que o interprete nos passa. Esses são exemplos raros como o, já resenhado, Plastic Ono Band do John Lennon. Nele, toda a sua mágoa com os Beatles e Deus e seu amor para Yoko são expostas em um disco extremamente sincero. Como não citar Mother? A poesia da música "Mother" é quase uma autobiografia da sua relação conturbada com os pais. Esse disco é um exemplo perfeito de como a arte pode não apenas nos sensibilizar quanto nos fazer sensíveis para um sentimento alheio. Ouvir esse disco é quase como ouvir uma sessão de terapia de John Lennon.

Outro exemplo que nos desperta sentimento de empatia é a música No Distance Left To Run do Blur. Nela, Damon Albarn canta a separação de sua namorada e a aceitação desse término. A música exala sinceridade, o timbre da voz da interpretação de Albarn não nos deixa dúvida, o que ele está contando é a sua história e como isso afetou ele. Em uma experiência quase sádica, ele nos leva a sofrer junto com ele durante os mais de 3 minutos da música. Nesse caso, a arte, muito mais que apenas representa um sentimento, mas nos mostra como podemos entender os outros e a nós mesmos a partir dela.